ERA PRA SER UMA HISTÓRIA DE AMOR
De:
JOSENILDO NASCIMENTO
Quase dezoito horas. O clima está
tenso. Todos esperam ansiosos à chegada dela. Um jovem, em pé e estático na
frente de um púlpito aguarda impaciente. O que não sai de seu pensamento é vê-la
entrando por aquela porta. Seu aspecto alto, meio franzino, cabelos castanhos e
boa aparência, chama a atenção de outras jovens que o assistem. É notória sua
impaciência, parece temer não acreditar que sua amada virá. O silêncio da
igreja é quebrado pelos vários sussurros de pessoas que aparentemente
demonstram se preocupar com pobre rapaz que está a ponto de ser abandonado no
altar. O velho sacerdote olha para o relógio de minuto em minuto.
Os convidados que estão do lado
de fora da catedral começam a murmurar sobre a possível desistência da noiva. A
equipe de imprensa não têm mais toda àquela atenção, pois acredita que seu
grande furo de reportagem foi pelos ares.
- Nunca uma noiva havia demorado
tanto - diziam alguns.
- Deve ter acontecido algo –
comentavam outros.
- Mas que motivo teria ARIANE
para abandoná-lo no altar? - questionavam os pais do noivo, ÉRIK.
Um grito ouve-se do lado de fora:
- ELA CHEGOU.
Todos que olhavam para o aflito
noivo, se inclinam para olhar pra trás. O
sacerdote endireita sua veste sacra. A porta se abre. A noiva entra. A marcha
nupcial ecoa pela igreja. E os pais do noivo e da noiva levantam-se juntos com
toda a multidão. Ariane caminha lentamente pelo tapete vermelho enquanto que os
flashes quase que iluminam ainda mais o ambiente. O semblante desolado de Érik agora é só de sorrisos.
Seus olhos parecem não acreditar naquela visão celestial e seu coração pulsa
mais intensamente.
As pessoas ali presentes olham
para noiva e concordam entre si com olhares seguidos de sorrisos sobre como
está linda aquela mulher que caminha no corredor.
Enfim, os noivos estão de frente
para o altar. Eles pegam nas mãos um do outro e seguram fortemente. O sacerdote
abre um grande livro e começa o seu sermão.
Do lado de fora, um carro pára em
frente à catedral. Alguns que estavam ali assistindo à cerimônia por um telão
se surpreendem ao verem uma mulher descer do carro correndo e entrar na
catedral. Ela passa com dificuldade empurrando e abrindo caminho para chegar o
mais próximo o possível do altar. Ao chega próximo dos noivos, ela fica
parada enquanto ouve o sacerdote concluir seu sermão.
Como todo bom filme ou novela, o
padre resolve imitar esses scripts e faz a velha perguntinha:
- Se houver alguém que possa impedir a união
desses dois jovens, que fale agora ou cale-se para sempre.
A mulher que descera do carro e
agora estava estática de frente pro altar manifesta-se puxando uma arma da
cintura.
- Parem agora com esse
casamento.
Toda a multidão se assusta.
- Esse casamento não vai
acontecer.
- Mas quem é essa aí? – Perguntam
os pais do noivo. A mãe de Érik olha para o filho surpresa.
- Mas o que foi que você fez,
rapaz? - Fala o pai da noiva encarando o futuro genro.
Érik fica atônito.
- Mônica? Mas o quê que você está
fazendo?
- Afaste-se dela, Érik, agora.
A imprensa depressa corre para
filmar o evento. Um jornalista diz ao câmera para fazer transmissão ao vivo.
Ariane parece estar calma e
inabalável.
- Mônica, você enlouqueceu. Pare
já com isso.
- Érik, você não está entendo.
- Estou sim. Mônica: acabou. Não
deu certo. É Ariane que eu amo. Por favor, baixe esta arma.
- Ela nunca foi sua. Você é que não percebe isso.
- Acho que você foi longe demais.
Isso tem que parar por aqui.
- Também acho. Vamos Ariane, tira
o vestido, agora.
Nessa hora todos sussurram. O
barulho na igreja toma de conta. Ninguém está entendendo nada.
- Você enlouqueceu? Quer me
humilhar? Estragar a minha vida?
- Não, quero salvar a sua.
Érik olha fundo nos olhos de
Mônica e não vê ódio nem rancor, e sim: MEDO.